"...brilhe a vossa luz diante dos homens,
de modo que, vendo as vossas boas obras,
glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu."
(Mt 5, 16)

São vários os cristão alentejanos,
ou com profunda relação ao Alentejo,

que se deixaram transformar pela Boa Nova de Jesus Cristo
e com as suas vidas iluminaram a vida da Igreja.
Deles queremos fazer memória.
Alguns a Igreja já reconheceu como Santos,
outros estão os processos em curso,

outros ainda não foram iniciados os processos e talvez nunca venham a ser…
Não querendo antecipar-nos nem sobrepor-nos ao juízo da Santa Mãe Igreja,
queremos fazer memória destas vidas luminosas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

DO ESPELHO DAS SANTAS MULHERES
Santa Beatriz da Silva (1437-1492)
e Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade (1889-1962)

Duas mulheres, duas obras e várias semelhanças. A primeira, Dona Beatriz da Silva, nascida por volta de 1437, fundou a Ordem da Imaculada Conceição. A segunda, Dona Maria Isabel Picão Caldeira Carneiro, nasceu em 1889 e fundou a Congregação das Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, dedicando-a à então Beata Beatriz, canonizada algumas décadas depois.
Foi Santa Beatriz que Dona Maria Isabel elegeu para protectora colocando-a no nome da Congregação. Sentir-se-ia identificada com a Santa, com quem tinha certas semelhanças biográficas. Ambas tinham nascido no Alentejo, a pouca distância: Santa Beatriz em Campo Maior e Dona Maria Isabel no Monte do Torrão, em Santa Eulália. Ambas pertenciam a famílias fidalgas radicadas na região. Se Santa Beatriz fora pedida em casamento por duques e condes, recusando-o, Dona Maria Isabel fora pedida por um rico lavrador e aceitara. Neste aspecto, tinham seguido caminhos distintos, mas em duas dimensões da mesma castidade cristã: Santa Beatriz vinculada por um voto privado de virgindade, Dona Maria Isabel vinculada por um voto de fidelidade conjugal. Santa Beatriz foi feliz como virgem consagrada. Dona Maria Isabel também o foi, como esposa. Enviuvando jovem e sem filhos, assumiu o seu passado sem respeitos humanos: afirmou que tivera um casamento feliz e refere-se à morte do marido como o maior desgosto da sua vida. A viuvez e um novo discernimento vocacional conduziram-na à castidade religiosa, como fundadora de uma nova Congregação. Nesta condição também morrera Santa Beatriz, monja professa e fundadora de uma nova Ordem.
Ambas dedicaram a existência à Oração, à Penitencia e à Caridade. Se Santa Beatriz viveu em Castela orando, penitenciando-se e dando esmolas, Dona Maria Isabel teve semelhante perfil, dedicando-se, por Elvas e por outras localidades, ao serviço incansável do próximo. Ambas declinaram os bens temporais, investindo as suas fortunas em obras espirituais. Curiosamente, as duas sairam das suas terras natais e adoptaram como suas as cidades onde quiseram residir. Se Santa Beatriz morou a maior parte da sua vida em Toledo, num mosteiro de monjas dominicanas, acompanhada por duas criadas, Dona Maria Isabel, numa primeira
fase da sua vocação religiosa, quis ser monja num cenóbio dominicano e fez-se acompanhar igualmente por duas serviçais. Criadas de uma e de outra viveram o resto das suas vidas em relação íntima com as religiosas dos institutos que as suas senhoras fundaram. De notar, ainda, que 0 Mosteiro de São Domingos de Elvas foi lugar de referência para ambas: Santa Beatriz tê-lo-a frequentado com os seus pais e irmãos, que ali tiveram a Capela da Conceição para jazigo da família, e Dona Maria Isabel teve ali 0 espaço para a oração e discernimento vocacional. Ainda outra semelhança: ambas tinham requintado gosto artístico, pois Santa Beatriz encomendou importantes obras de arte e Dona Maria Isabel, que frequentou Belas Artes em Lisboa, dedicou-se à pintura.
Mas foi na devoção a Nossa Senhora da Conceição que mais se estabeleceu a coincidência entre ambas. Era devoção típicamente portuguesa, alentejana, ou não estivesse próxima a Igreja de Santa Maria de Vila Viçosa, surgida da primitiva fundação de São Nuno, com cuja neta, a Infanta Dona Isabel, vivera Santa Beatriz. Ambas, na vida e na obra, quiseram ser espelho da Virgem Maria, modelo de todas as mulheres cristãs. Para tal convocaram também outras mulheres, seguindo o caminho da consagração religiosa. Santa Beatriz restaurou e adornou os Palácios de Galiana e a Igreja de Santa Fé para a sua fundação, Dona Maria Isabel fez o mesmo nos antigos edifícios do mosteiro de Nossa Senhora da Conceição de Elvas, com a respectiva igreja. Se Santa Beatriz criou um hábito monástico que reflectia o esplendor de Nossa Senhora, também Dona Maria Isabel e as suas companheiras envergaram semelhante veste. Por fim, a maior semelhança entre ambas foi, sem dúvida, a construção da santidade. Santa Beatriz da Silva e Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade, nome de religião, foram mulheres notáveis, cujas vidas e obras ainda hoje resplandecem no seio da Igreja, de Portugal, no mundo inteiro.
José Félix Duque
in «Seara dos Pobres», nº 60 - Outubro/Novembro/Dezembro - ano 2011
Apresentação da nova Biografia de
SANTA BEATRIZ DA SILVA

6ª feira - 21 de Outubro de 2011 pelas 20.30h
Monjas da Ordem da Imaculada Conceição
(ou Monjas Concepcionistas de Santa Beatriz da Silva)
MOSTEIRO DA IMACULADA CONCEIÇÃO DE CAMPO MAIOR

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

"Não basta ter fé:
é também absolutamente necessário viver de fé, ou viver a fé.
A aridez, a insuficiência, a fraqueza da vida religiosa no nosso tempo
vêm precisamente de se não compreender esta grande verdade."
Antologia de Pensamentos
do Servo de Deus
D. Manuel Mendes da Conceição Santos,
1977, pg. 63

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nova Biografia de Santa Beatriz da Silva
«SANTA BEATRIZ DA SILVA»

Autor:
Senra Coelho
(P. Francisco José Senra Coelho,
presbítero da Arquidiocese de Évora)

ISBN: 978-972-30-1587-4
Nº Páginas: 80
Edição:
Preço: 9.00€
PAULUS Editora
Rua D. Pedro de Cristo, 10
1749-092 Lisboa
Tel. 218 437 620 | Fax 218 437 629 |
editor@paulus.pt

Descrição:
«O presente livro sintetiza alguns momentos importantes da biografia de Santa Beatriz, juntamente com outras informações que facilitam uma necessária contextualização da sua vida e da sua obra. [...] Não arrastará os leitores para visões romanescas. Fará referência ao estilo hagiográfico das primeiras biografias da santa (escritas no início do século XVI) e apresentará correcção geral quanto a dados históricos, dela e do tempo em que viveu. Datas e nomes relacionados com Santa Beatriz da Silva, por exemplo, são dados que convidam os leitores a peqsquizar sobre a sua época e, portanto, sobre ela própria».

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Originalidade de Santa Beatriz chega até hoje
17 out 2011 (Ecclesia)
A Ordem da Imaculada Conceição (OIC), fundada pela portuguesa Beatriz da Silva (séc. XV) introduziu “uma espiritualidade mariana inovadora”, referem as conclusões do congresso internacional OIC, realizado em Fátima, entre sexta-feira e domingo.
No documento final desta atividade celebrativa dos 500 anos da Regra da OIC – aprovada pelo Papa Júlio II, a 17 de setembro de 1511 – realça-se também “o precioso contributo da OIC na maré de reformismo das congregações monásticas” e “as estratégias da política régia, da nobreza e do poder local que, nos séculos XVI a XVIII, interferem na fundação de mosteiros femininos e sua sustentação no recrutamento de vocações e na execução dos fins espirituais e intuitos assistenciais dos beneméritos”.

Em declarações à Agência ECCLESIA, a irmã Maria Helena Martins Alexandre, da OIC, sublinha que estas iniciativas “dão a conhecer melhor o âmbito histórico em que viveu Santa Beatriz da Silva” e “ajuda os jovens a conhecerem uma vida diferente”.

Há 11 anos na comunidade de Viseu – umas das duas comunidades, juntamente com a de Campo Maior, que a Ordem da Imaculada Conceição tem em Portugal -, esta religiosa refere que o congresso “deu a conhecer a OIC” e, como consequência, “poderão surgir novas vocações” porque a ordem fundada por Santa Beatriz da Silva “é pouco conhecida em Portugal”.

Nascida em Portugal em 1437 e falecida em Toledo (Espanha) em 1492, com canonização em 1976, Santa Beatriz da Silva foi apresentada como “uma mulher forte” e “uma das mais ricas e interessantes do monaquismo peninsular, fonte de espiritualidade e de cultura”.

Com cerca de 200 participantes, neste congresso fez-se também referência ao papel divulgador de Santa Beatriz em relação à Imaculada Conceição.

A fundadora da OIC exerceu um “papel relevante nesse percurso doutrinal e vivencial, ao consagrar toda a sua vida e obra à Imaculada Conceição, na vivência integral dos valores espirituais humanos que esta incarna e inspira como modelo humano e feminino sempre atual e imitável”, pode ler-se.

Segundo as conclusões dos participantes, os “dinamismos criativos” apresentados no congresso devem “ser incentivados: olhar o passado, com rigor científico e histórico, no regresso às raízes e às fontes de sentido perene; olhar o presente, na vivência dos carismas ao serviço da comunhão e na procura da qualidade de vida contemplativa e da presença significativa no mundo; olhar o futuro, com renovada esperança, com paixão e entusiasmo”.
LFS
Conclusões do Congresso Internacional
da Ordem da Imaculada Conceição

1. Realizou-se, de 14 a 16 de Outubro de 2011 em Fátima, na Casa das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, o Congresso Internacional «Ordem da Imaculada Conceição – 500 anos. Santa Beatriz da Silva: Estrela para Novos Rumos». Santa Beatriz da Silva inspirou o andamento dos trabalhos do Congresso, que decorreram em ritmo de conferências, painéis e debates e no qual participaram cerca de 50 conferencistas e 200 congressistas. As actas, cuja publicação ansiamos para breve, constituirão certamente abundante manancial de reflexão e provocação de novas investigações.
2. Na sessão de abertura, em que foi lida uma saudação particular do Presidente da República, o Presidente da Comissão Organizadora do Congresso, D. José Alves, situou-o em contextos eclesial, académico e social, apelando a que os 155 mosteiros e 3000 monjas da OIC espalhadas pelos quatro continentes sejam «cidadelas do Espírito», na bela expressão de Bento XVI. Seguiu-se a saudação da Coordenadora da Confederação de Santa Beatriz da Silva e a apresentação do programa pelo Presidente da Comissão Científica, José Eduardo Franco. O Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, encerrou a sessão, desejando que o Congresso contribua para dar resposta aos actuais anseios de profundidade e contemplação e para voltar a dar uma alma à Europa.
3. Na conferência inicial, moderada por D. José Alves, o eminente historiador José Mattoso situou-nos no tempo de Santa Beatriz da Silva, um tempo simultaneamente de esplendor e auge da História pátria e de profunda crise social e económica. No contexto da profunda renovação da vida religiosa, a Obra religiosa de Santa Beatriz da Silva surge como um dos acontecimentos típicos da capacidade da sociedade peninsular para superar a crise da época.
4. O painel intitulado «Ordens, Congregações e Institutos Seculares», moderado por Hermínio Rico, abordou quatro tópicos nesta caminhada pela história. Na caracterização das Ordens Monásticas no século XV, Arnaldo Espírito Santo realçou o fundamento da sua espiritualidade na Regra de São Bento e o esforço de reformação dos mosteiros nas questões do governo e administração dos bens, na observância e instrução das religiosas. António de Sousa Araújo caracterizou as Ordens Mendicantes na vivência da pobreza enquanto comunidade e fraternidade solidária, disso resultando uma subsistência em tensão de instabilidade, fruto do trabalho ou da sua falta (mendicância). David Sampaio Barbosa situou o surgimento das Congregações Religiosas no século XIX, como carismas ao serviço da sociedade em áreas como as instituições sociais, a saúde e o ensino, dando atenção ao pobre, ao doente, à infância abandonada e sem instrução e à missionação. João Miguel Almeida salientou a missão dos Institutos Seculares à luz de uma espiritualidade de compromisso com uma vida no mundo coerente com os valores evangélicos, na qual ganha revelo a dimensão mariana.
5. A abrir o painel «Expressões de Contemplação», moderado por António Rego, Maria Filomena Andrade propôs caminhos de uma espiritualidade feminina sempre renovada e alicerçada nas respostas aos desafios da sociedade e da Igreja de então, à semelhança de Santa Beatriz da Silva. Maria Cristina Osswald referiu a expansão da iconografia da Imaculada Conceição na Pintura e na Escultura, a partir do Concílio de Trento e sua inspiração mais recente nos protótipos iconográficos de Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora de Lourdes. Inês Maria da Santíssima Trindade e Maria Inês da Cruz caracterizaram a contemplação da concepcionista centrada em Cristo e inspirada nos passos de Maria, a sua vocação universal, a vivência do amor de Deus e o saber saboreado. Nuno Saldanha apontou novas formas de expressão da religiosidade e devoção na pintura do século XIX, mais na linha do novo gosto, aspirações, formas de piedade e devoção populares, do que nos temas clássicos da santidade.
6. No painel «Imaculada Conceição, Mulheres e Ordens Religiosas», sob a moderação de Cristiana Isabel Lucas Silva, Francisco José Senra Coelho situou a OIC no contexto de outras ordens femininas em Portugal, realçando as Bulas papais da Reforma da Observância Pré-tridentina, no seguimento do impulso dado, pelo Concílio de Constança em 1417, aos movimentos reformadores da vida religiosa. Aires Gameiro falou das mulheres nas cartas e biografia do alentejano São João de Deus, nascido aquando da morte de Santa Beatriz da Silva. Inspirado pela Mulher Maria Imaculada, São João de Deus procurou reabilitar as mulheres de modo integral e com dignidade. Carlos Alberto de Seixas Maduro relacionou a Imaculada Conceição, o Rosário e a viabilidade de Portugal na óptica do Padre António Vieira. No tempo da Restauração, coube um papel muito particular à Virgem do Rosário e à Imaculada Conceição na viabilidade de um país que voltava a nascer e a que Vieira juntava a esperança messiânica de que fosse a cabeça do mundo. A finalizar o painel, Susana Mourato Alves-Jesus abordou de modo interligado a Ordem do Carmo, as Mulheres e os Direitos Humanos. No quadro do contributo que as Ordens Religiosas sempre tiveram no longo processo de afirmação dos Direitos Humanos, a Ordem da Imaculada Conceição teve especial participação, nomeadamente quanto ao papel da mulher na sociedade e à salvaguarda dos seus respectivos direitos.
7. O segundo dia do Congresso iniciou-se com uma conferência de José Félix Duque, sob a moderação de David Sampaio Barbosa, em que o autor abordou a «Vida e Obra de Santa Beatriz da Silva», que nasceu por volta de 1437 em Campo Maior e faleceu em 1492 em Toledo. A sua vida dedicada à oração, à penitência e à caridade, marcada por uma grande devoção à Imaculada Conceição, inspirou a Obra que nos legou, iniciada na fundação do Mosteiro da Conceição em Toledo. A sua canonização em 1976, pelo Papa Paulo VI, significa o reconhecimento da santidade desta Mulher Forte, fundadora da OIC, uma das mais ricas e interessantes do monaquismo peninsular, fonte de espiritualidade e de cultura. Aqui se exprime igualmente a pertinência em considerar as mulheres como agentes activos das culturas e das sociedades, capazes de grandes realizações.
8. O sugestivo subtítulo «enlaces e desenlaces» do painel sobre a «OIC e as outras Ordens», moderado pela Susana Mourato Alves-Jesus, contou com o contributo de quatro especialistas. Ao questionamento da existência de uma regra primitiva concepcionista, José Garcia Santos analisou minuciosamente os meandros da sua evolução e conexão com outras regras inspiradoras e concluiu que a Regra OIC resultou de uma caminhada muito longa e com muitas dificuldades do carisma que Deus concedeu a Santa Beatriz da Silva, até ao reconhecimento, pelo Papa Júlio II em 1511, da «Regra das Irmãs da Conceição da Bem-aventurada Virgem Maria». Jacinto Guerreiro abordou a presença e memória das Ordens e Congregações Religiosas no Alentejo. Nos últimos cinco séculos, mesmo com o parêntesis secular da expulsão das Ordens do país, a mentalidade religiosa alentejana foi marcada pela presença de uma rede de instituições e famílias espirituais, em particular as Ordens Mendicantes, que tiveram enorme influência, quer nas manifestações e festas populares, quer no património cultural, pastoral e espiritual. Maria de Lúcia Brito Moura analisou o acolhimento e recepção das Ordens e Congregações Religiosas em Portugal, no período de 1834 a 1910 da Monarquia Constitucional. A Carta Constitucional, ao mesmo tempo que reconhece a religião católica como religião do Estado, põe fim às Ordens e Congregações Religiosas. Porém, neste ambiente de interdição, animosidade e discordância, algumas Ordens mantêm-se em situação de semi-clandestinidade até à expulsão definitiva em 1910. Zorán Petrovici apontou o caso da Madre Mercedes de Jesus, que a partir de 1966 liderou um movimento de regresso às fontes, conseguindo da Santa Sé algumas emendas que devolveram à OIC a espiritualidade concepcionista original, em substituição das referências ao espírito franciscano.
9. O painel «Carisma e Espiritualidade», moderado por Vítor Melícias, contou com duas participações. Manuel Curado ensaiou possíveis aproximações filosóficas à questão sobre quem auxiliou Santa Beatriz da Silva, a partir da lenda do baú que encerrou Santa Beatriz da Silva e de cuja caixa escura saiu com vida, através da ajuda da Senhora Branca. O mistério da lenda pode levar a relacionar a Senhora Branca com a Virgem Maria. José Eduardo Franco referiu as devoções ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, com apogeu no século XIX, como «espiritualidades quentes». Apresentou as raízes, a afirmação e a projecção dessas espiritualidades como propostas de vivência cristã, que revelam um Deus próximo, misericordioso, sensível e preocupado pelos homens, e que transportam consigo uma utopia de transformação do homem e da sociedade, comprometida com os homens e as mulheres de cada tempo.
10. Moderada pela Annabela Rita, a conferência de Joaquim Chorão Lavajo sobre «a Imaculada Conceição na Vida e Obra de Santa Beatriz da Silva» situou na história da Igreja a devoção do povo cristão à Imaculada Conceição, que teve o seu ponto culminante na definição dogmática de 1854. Santa Beatriz da Silva exerceu um papel relevante nesse percurso doutrinal e vivencial, ao consagrar toda a sua vida e obra à Imaculada Conceição, na vivência integral dos valores espirituais humanos que esta incarna e inspira como modelo humano e feminino sempre actual e imitável.
11. No painel moderado por Maria de Fátima Eusébio sobre a «recepção da Imaculada Conceição na arte e na cultura ibéricas», começou Sílvia Ferreira por apresentar, de modo visual, representações escultóricas de Nossa Senhora da Conceição no Barroco português, em particular no período pós-tridentino. De modo específico, ensaiou a interacção entre imaginária e obra de talha retabular, cujas expressões majestosas proporcionam o cenário espacial e estético para a sua condigna adoração. Annabela Rita destacou a importância da Imaculada Conceição no processo de legitimação da identidade nacional; esta tendeu a legitimar-se num plano espiritual, em que a Imaculada Conceição reconfigura a aliança entre o divino e o humano em que a colectividade se reconhece. Maria Isabel Morán Cabanas falou da presença de Santa Beatriz da Silva no teatro espanhol do século XVII como paradigmas de diálogos ibéricos. Salientou, em particular, a lusofilia do dramaturgo Tirso de Molina focalizada em D. Beatriz da Silva. É na boca do rei D. João II de Castela que o dramaturgo põe a célebre frase: «Beatriz, mulher tão bela, só a merece Deus».
12. O painel «Posteridade espiritual de Santa Beatriz da Silva», moderado por Manuel Joaquim Gomes Barbosa, contou com variadas presenças. Maria Núria Campos Vilaplana apresentou o carisma de Santa Beatriz da Silva vivido por Ángeles Sorazu (1873-1921). Esta mística concepcionista dos inícios do século XX viveu unida com Cristo, seu Esposo, pelo amor, meta de toda a concepcionista, e acentuou na sua vivência a devoção a Maria em quatro aspectos intimamente relacionados: Maria é Imaculada, é o Tempo de Cristo, é Esposa, é pobre de Javé. José Luís França Dória e João Luís Cabral Picão Caldeira, familiares da Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade (1889-1962), apresentaram dois testemunhos sobre a fundadora das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres. Foram memórias vivas, vivências, registos e testemunhos familiares de quem conviveu de perto com a Madre Maria Isabel. Maria Ferraz Barbosa Santos referiu-se ao estabelecimento da OIC na América portuguesa, através da primeira presença, no século XVIII, do Convento da Lapa no Brasil. Joaquín Dominguez Serna falou de Santa Beatriz da Silva e a OIC, salientando o seu carisma monástico e contemplativo, centrado na Imaculada Conceição, e a íntima ligação com a Ordem Franciscana.
13. O terceiro e último dia do Congresso começou com a conferência de João Francisco Marques sobre «a OIC e as Ordens Religiosas femininas na Modernidade», sob a moderação de Francisco José Senra Coelho. O eminente historiador salientou, por um lado, o precioso contributo da OIC na maré de reformismo das congregações monásticas, introduzindo uma espiritualidade mariana inovadora, e a sua evolução nos séculos imediatos; por outro, referiu as estratégias da política régia, da nobreza e do poder local que, nos séculos XVI a XVIII, interferem na fundação de mosteiros femininos e sua sustentação no recrutamento de vocações e na execução dos fins espirituais e intuitos assistenciais dos beneméritos.
14. Depois de uma intervenção de Geraldo Coelho Dias, apontando o contributo singular de Cister para a Ordem Beneditina, teve início o painel «Ordens Religiosas e Pastoral», moderado por Joaquim Chorão Lavajo. Isidro Pereira Lamelas apontou o caso dos Mendicantes numa pastoral de cidade, com relevância histórica e actual da viragem pastoral específica da «fuga mundi» ao «ire per mundum» pregando o Evangelho da Paz, novidade trazida por S. Francisco de Assis e pela Regra Franciscana. José Antunes da Silva apresentou uma pastoral de missão de fronteira. As Ordens Religiosas são desafiadas a viver nas fronteiras da crença/descrença, dos pobres, das culturas e das religiões. Aqui, a missão requer um novo estilo de presença, que valorize a contemplação frente ao activismo, a colaboração face ao individualismo e o diálogo em oposição à conquista. Luís Machado Abreu situou as Ordens e Congregações no Portugal contemporâneo. Realçou as profundas e bruscas mudanças políticas no século XIX e XX, que tiveram forte repercussão nas Ordens e Congregações, em particular as deliberações de 1834 e 1910 de as eliminar do nosso pais. Salientou ainda a coragem e a criatividade que tiveram nas respostas aos desafios dos tempos adversos e das situações favoráveis.
15. «Actualidade da vida monástica» foi o tema da conferência de Mariano José Sedano Sierra, historiador vindo da Rússia, sendo moderador Augusto Moutinho Borges. Nos factores do mundo presente que interpelam a vida monástica, a crise de Deus constitui um desafio à paixão por Deus. Os monges, que têm como único fim a busca de Deus, são chamados de modo particular a contribuir para o regresso, de modo novo, à experiência do Deus vivo. Ícones vivos da invisível luz do Tabor, são chamados á oração transformadora em comunhão com todos os homens, à integração na vida comunitária e na Igreja, à grande solidariedade com os homens, à ecologia monástica e ao testemunho de ecumenismo radical na Igreja indivisa.
16. A sessão de encerramento, presidida por D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu, teve início com palavras agradecidas da Abadessa do Mosteiro de Campo Maior, a que se seguiu a leitura das conclusões por Manuel Joaquim Gomes Barbosa. José Eduardo Franco reiterou agradecimentos e objectivos do Congresso, entre eles a pretensão de dar cidadania académica a esta celebração jubilar. O Ministro Geral da Ordem Franciscana convidou os participantes a viver o presente com paixão, como Santa Beatriz da Silva, para olhar o futuro com renovada esperança. O Bispo de Viseu convidou igualmente os presentes a levarem na alma a contemplação de Deus e a integração de tudo no seu lugar, ao jeito das Irmãs Concepcionistas. A finalizar, D. José Alves prestou homenagem à equipa do CLEPUL pela fé, competência e coragem que colocou neste projecto e noutros de arrojo semelhante. O Congresso encerrou-se com a entoação de louvor «Salve Regina» por todos os congressistas.
17. As vertentes cultural e artística estiveram igualmente presentes durante o Congresso, através dos Coros Mozart de Viseu e Fórum Música de Lisboa, e da Banda de Investigação CLEPUL «Ai Deus e u é». De destacar ainda a apresentação de um documentário audiovisual sobre a OIC e o lançamento da obra monumental «Mosteiros e Conventos, Ordens e Congregações: 1000 anos de empreendedorismo cultural, religioso e artístico em Portugal», fruto da vontade extraordinária de um leque de jovens e competentes investigadores, liderados por José Eduardo Franco. A homenagem a João Francisco Marques, um dos maiores vultos na Historiografia Religiosa em Portugal, constituiu ainda momento de relevo cultural.
18. O Congresso encerra hoje, mas os dinamismos criativos aqui apresentados devem ser incentivados: olhar o passado, com rigor científico e histórico, no regresso às raízes e às fontes de sentido perene; olhar o presente, na vivência dos carismas ao serviço da comunhão e na procura da qualidade de vida contemplativa e da presença significativa no mundo; olhar o futuro, com renovada esperança, com paixão e entusiasmo, que só pode ser em Deus por intercessão da Imaculada Conceição. Só assim Santa Beatriz da Silva poderá ser verdadeiramente Estrela para Novos Rumos nas nossas vidas e instituições, na Igreja e na sociedade.
Fátima, 16 de Outubro de 2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

José Mattoso sublinha capacidade de «encontrar soluções realistas» demonstrada ao longo dos séculos
Especialista classifica obra de Santa Beatriz da Silva
como reação para superar «crise da época»

LFS/Ecclesia | José Mattoso 14 out 2011 (Ecclesia) – O historiador José Mattoso disse hoje em Fátima que a obra religiosa de Santa Beatriz da Silva, do século XV, surge como um dos acontecimentos “típicos da capacidade de reação peninsular na superação da crise da época”.
Na conferência inaugural do Congresso Internacional dos 500 anos da Ordem da Imaculada Conceição (OIC), sobre «O tempo de Santa Beatriz», a decorrer em Fátima, no auditório das Irmãs Concepcionistas, de hoje até domingo, o especialista referiu também que as crises sociais e económicas, “mesmo as mais graves, constituem um desafio e até estímulo à renovação da sociedade”.
Neste congresso - com cerca de duas centenas de participantes - o orador ao fazer referência à crise atual, ainda que desconhecendo “as suas dimensões e as suas consequências”, recordou outras crises na história: “Algumas fizeram vítimas, mas também enriqueceram experiências de vida e ensinaram a encontrar soluções realistas, eficazes e abrangentes”.
Assinalando 500 anos da aprovação da Regra da OIC pelo Papa Júlio II, Mattoso referiu que na versão vulgar da historiografia portuguesa se considera que o século XV “como o tempo de esplendor”.
No entanto, afirmou o historiador, nesta época existiu “uma profunda crise social e económica que só a muito custo foi efetivamente superada” e um dos seus aspetos “mais esquecidos” é o da “profunda renovação da vida religiosa, tanto mais vigorosa, quanto mais contrastante com a decadência e até corrupção das ordens antigas e da hierarquia eclesiástica”.
Beatriz da Silva, nascida por volta do 1437 em Campo Maior, viveu desde os 14 anos em reclusão no mosteiro de São Domingos de monjas dominicanas, em Toledo (Espanha), alcançando em 1489, uma primeira aprovação papal para a sua comunidade monástica através da bula ‘Inter Universa’, do Papa Inocêncio VIII, mas só após a sua morte (1492), a Ordem da Imaculada Conceição obteria a bula fundacional ‘Ad Statum Prosperum’, no ano de 1511.
Santa Beatriz foi canonizada pelo Papa Paulo VI a 3 de outubro de 1976.
LFS/OC
Santa Beatriz da Silva
Estrela para Novos Rumos
Apresentação
Santa Beatriz da Silva, a única mulher portuguesa que fundou uma ordem contemplativa, faleceu em Toledo, no ano 1492, com 55 anos de idade, antes que a Regra da Ordem da Imaculada Conceição (OIC) fosse aprovada pelo Papa Júlio II, no dia 17 de Setembro do ano 1511. São já passados 500 anos sobre esse ato fundante, exarado na bula papal Ad Statum Prosperum. A Ordem da Imaculada Conceição não só sobreviveu às fortes crises políticas, ideológicas e sociais que marcaram a Europa e o mundo ocidental como também se difundiu por diferentes países da Europa, da América e da Ásia e continua a afirmar-se com pujança através de quase centena e meia de mosteiros. Este é um facto notável que merece ser posto em relevo. Ora quando, nos nossos dias, é frequente ouvir-se falar de crise da vida consagrada, a vitalidade desta ordem contemplativa não pode passar despercebida aos historiadores e aos estudiosos dos fenómenos sociorreligiosos.
Ao contrário do que seria expectável, verificamos, com alguma mágoa, que em Portugal não são suficientemente conhecidas nem a figura ímpar de Santa Beatriz da Silva nem a Ordem monástica por ela fundada. Por isso, consideramos que tem todo o sentido a iniciativa do Congresso Internacional, aliás bem acolhida tanto no meio eclesiástico como no meio académico. Num e noutro se sente a necessidade de tornar mais conhecida a personalidade, a vida e a obra de Santa Beatriz da Silva, tendo em conta o contexto cultural, sociopolítico e religioso em que ela viveu. Por outro lado, importa estudar e conhecer os sólidos alicerces sobre os quais edificou a sua Ordem da Imaculada Conceição, que experimentou tão rápida expansão ao longo do século XVI, com perto de uma centena de fundações, e foi capaz de resistir aos ventos e tempestades da história, durante cinco séculos (Mt 7, 24-25).
A vida da Fundadora e a vida da OIC constituem dois filões fecundos não suficientemente explorados. Deles saberão os investigadores que tomam parte no Congresso extrair os tesouros novos e antigos, que permitam colocar Santa Beatriz da Silva ao lado das grandes figuras nacionais, imortalizadas pelos nobres e heroicos feitos praticados em favor da cultura e da santidade. É uma honra que lhe é devida por ser portuguesa e, mais ainda, por ser mulher, sobretudo, se tivermos em conta que, no século XV, o papel social da mulher era muito inferior ao do homem e bem diferente do atual.
A maior expansão da Ordem da Imaculada Conceição deu-se logo no século XVI, com cerca de uma centena de fundações. Mas, a vinda para Portugal das Filhas de Santa Beatriz da Silva foi tardia e a sua presença manteve-se sempre discreta. Entre 1629 e 1732, apenas se estabeleceram sete comunidades, na área continental, que vieram a desaparecer com a expulsão das ordens religiosas. Presentemente, são dois os mosteiros com comunidades residentes: o de Campo Maior, fundado por cinco monjas espanholas, em 1942, e o da Quinta do Viso, perto de Viseu, fundado a partir da Comunidade de Campo Maior, em 1970. Diferente é a situação no Brasil, onde existem, presentemente, 18 mosteiros da Ordem da Imaculada Conceição.
Seria interessante investigar as causas destas assimetrias. Sendo portuguesa a Fundadora, como se explica uma presença tão discreta da Ordem em Portugal, mesmo na atualidade? É certo que, apesar de serem apenas duas, as comunidades portuguesas são bastante jovens e acalentam esperança de crescimento. Com efeito, nota-se na sociedade portuguesa uma renovada atração pela vida contemplativa. Será isso um bom sintoma para que demos crédito a quem vaticinou que o século XXI virá a ser o século do misticismo?
Espero que o Congresso Internacional, alargando os horizontes para lá da Ordem da Imaculada Conceição, nos ajude a aprofundar e a compreender as coordenadas da vida contemplativa, como semente de vida nova nesta sociedade, prisioneira do presente, desprovida da vitalidade de que as raízes da História são garantia e privada de um ideal que lhe permita vislumbrar o futuro para lá das nuvens que escurecem o sol.
Termino agradecendo a preciosa, competente e dedicada colaboração de todos quantos se quiseram associar a nós para esta comemoração jubilar. Oxalá a semente que ora lançamos à terra produza muitos e saborosos frutos no ambiente cultural, social e religioso.
+ José Francisco Sanches Alves
Arcebispo de Évora

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Santa Beatriz da Silva,
mulher inovadora

Congresso internacional aborda vida e obra da fundadora da Ordem da Imaculada Conceição, que assinala 500 anos de existência

Lisboa, 13 out 2011 (Ecclesia)
Historiadores lusos e estrangeiros reúnem-se entre sexta-feira e domingo, em Fátima, num congresso internacional para lembrar a vida e obra de santa Beatriz da Silva, fundadora da única ordem contemplativa portuguesa, aprovada pelo Papa há 500 anos.

A iniciativa recorda “uma mulher forte de origem portuguesa que quis afrontar os cânones sociais e mentais ibéricos do tempo e encontrar um espaço de protagonismo e de liberdade interior”, assinala o presidente da comissão científica do congresso, José Eduardo Franco, em texto escrito para o semanário Agência ECCLESIA.
O especialista do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa diz ser de “toda a pertinência e importância a realização de um grande congresso internacional”, dedicado aos 500 anos da Ordem da Imaculada Conceição e à sua fundadora.
Os trabalhos vão ser abertos, pelas 09h00, pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, e o arcebispo de Évora, D. José Alves, presidente da comissão organizadora do congresso internacional.
A conferência inaugural vai ser proferida pelo historiador José Mattoso (Universidade Nova de Lisboa), que vai abordar o tema “O tempo de Santa Beatriz da Silva”.
A iniciativa, que terá como palco o auditório da Casa de Santa Clara, das irmãs concecionistas, pretende “trazer ao conhecimento do público em geral quem foi essa figura extraordinária de mulher do século XV”, explica D. José Alves, em entrevista ao Programa ECCLESIA.
Beatriz da Silva, nascida por volta do 1437 em Campo Maior, viveu desde os 14 anos em reclusão no mosteiro de São Domingos de monjas dominicanas, em Toledo (Espanha), onde, segundo Eduardo Franco, “ganha fama de santidade e modelo de vida espiritual”, juntando à sua volta outras mulheres.
“Do ponto de vista litúrgico, espiritual, organizacional e jurídico [Beatriz] planeia a constituição de um mosteiro que fará nascer uma ordem feminina com autonomia, com prerrogativas próprias e liberdade de escolhas, afrontando uma tendência de fazer depender as fundações monásticas femininas das regras e ordens masculinas”, refere o presidente da comissão científica do congresso internacional.
Santa Beatriz alcançou, em 1489, uma primeira aprovação papal para a sua comunidade monástica através da bula ‘Inter Universa’, do Papa Inocêncio VIII, mas só após a sua morte (1492), a Ordem da Imaculada Conceição obteria a bula fundacional ‘Ad Statum Prosperum’, no ano de 1511, com a assinatura do Papa Júlio II.
Segundo Eduardo Franco, “ tem-se assistido nas últimas décadas a um novo florescimentos dos mosteiros da Ordem da Imaculada Conceição tanto na Europa como fora do velho continente cristão, nomeadamente na América Latina”.
“Só no Brasil existem 18 mosteiros desta ordem. Em Portugal, existem duas comunidades refundadas no século XX. Uma em Campo Maior e outra perto de Viseu na Quinta do Viso”, precisa.
Beatriz da Silva foi canonizado pelo Papa Paulo VI a 3 de outubro de 1976.
JEF/OC
Fátima - Congresso internacional
«Não são suficientemente conhecidas»
a figura e obra de Santa Beatriz da Silva
Santa Beatriz da Silva foi a única mulher portuguesa que fundou uma ordem contemplativa. 500 anos depois, um congresso analisa a figura e o testemunho desta religiosa
Faleceu aos 55 anos, em Toledo, Espanha, ainda antes de ver a Regra da Ordem da Imaculada Conceição aprovada pelo Papa Júlio II (a 17 de Setembro de 1511). 500 anos depois, a ordem por si fundada possui dois mosteiros em Portugal, 18 no Brasil, além de outras casas. Cinco séculos depois a vida da fundadora e sua obra são tema de um congresso internacional.
«A Ordem da Imaculada Conceição não só sobreviveu às fortes crises políticas, ideológicas e sociais que marcaram a Europa e o mundo ocidental como também se difundiu por diferentes países da Europa, da América e da Ásia e continua a afirmar-se com pujança através de quase centena e meia de mosteiros», escreve o arcebispo de Évora no livro do congresso que se realiza a 14 e 15 de Outubro, em Fátima. «Quando, nos nossos dias, é frequente ouvir-se falar de crise da vida consagrada, a vitalidade desta ordem contemplativa não pode passar despercebida aos historiadores e aos estudiosos dos fenómenos sociorreligiosos», defende José Alves.
Em Portugal – diz o arcebispo metropolita de Évora - «não são suficientemente conhecidas nem a figura ímpar de Santa Beatriz da Silva nem a Ordem monástica por ela fundada». Por isso, ganha maior relevância este congresso internacional. Tanto no meio eclesiástico como no meio académico «se sente a necessidade de tornar mais conhecida a personalidade, a vida e a obra de Santa Beatriz da Silva, tendo em conta o contexto cultural, socio-político e religioso em que ela viveu», sublinha.
A atenção que este congresso internacional dedica à religiosa portuguesa (e que conta com o presidente da República a presidir à Comissão de honra), à ordem por si fundada e capaz de resistir durante cinco séculos são temáticas por explorar. «É uma honra que lhe é devida por ser portuguesa e, mais ainda, por ser mulher, sobretudo, se tivermos em conta que, no século XV, o papel social da mulher era muito inferior ao do homem e bem diferente do actual», escreve José Alves.
A maior expansão da Ordem da Imaculada Conceição deu-se no século XVI, com cerca de uma centena de fundações. Mas, a vinda para Portugal das Filhas de Santa Beatriz da Silva foi tardia e a sua presença manteve-se sempre discreta. Presentemente, são dois os mosteiros com comunidades residentes: o de Campo Maior, fundado por cinco monjas espanholas, em 1942, e o da Quinta do Viso, perto de Viseu, fundado a partir da Comunidade de Campo Maior, em 1970. Diferente é a situação no Brasil, onde existem, presentemente, 18 mosteiros da Ordem da Imaculada Conceição.
«Seria interessante investigar as causas destas assimetrias. Sendo portuguesa a fundadora, como se explica uma presença tão discreta da Ordem em Portugal, mesmo na actualidade?», questiona o arcebispo. Apesar de serem apenas duas, «as comunidades portuguesas são bastante jovens e acalentam esperança de crescimento», esclarece. José Alves aponta uma «renovada atracção pela vida contemplativa» para questionar se «será isso um bom sintoma para que demos crédito a quem vaticinou que o século XXI virá a ser o século do misticismo?».
Texto Lucília Oliveira
FÁTIMA MISSIONÁRIA onlaine
Coração Imaculado de Maria
Se souber olhar com olhos de fé para aquele Coração que tanto sofreu porque tanto amou, encontrará nele muita luz e muito conforto no meio das trevas e das tortura em que sua alma se encontra.
Não pense que a Santíssima Virgem trilhou na vida uma estrada de luz: deixou, sim, muita luz atrás de si, mas essa luz era produzida pela combustão da sua alma, queimada pelo fogo da tribulação. Teve horas amargas como ninguém, viu-se envolvida em tempestades medonhas, sem saber com delas havia de sair; mas sabia que o Pai celeste é bom, que não abandona os que nele confiam e crêem no seu amor, portanto confiava, cria no amor e saboreava humildemente a amargura da sua dor. O seu coração continuava fixo em Deus, e tanto bastava.
(Agosto de 1951)
Servo de Deus
D. Manuel Mendes da Conceição Santos
arcebispo de Évora
in «Coragem e Confiança» pensamentos de orientação espiritual, pg. 63

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Congresso assinala 500 anos da Ordem da Imaculada Conceição
Iniciativa pretende homenagear fundadora da Ordem, Santa Beatriz da Silva, e dar a conhecer o dinamismo e vitalidade das irmãs concepcionistas
No âmbito dos 500 anos de aprovação da Regra da Ordem da Imaculada Conceição, a arquidiocese de Évora vai promover um congresso internacional em Fátima sobre a fundadora da congregação, Santa Beatriz da Silva.
A iniciativa, que terá como palco o auditório da Casa de Santa Clara, das irmãs concepcionistas, entre 14 e 16 de outubro, pretende “trazer ao conhecimento do público em geral quem foi essa figura extraordinária de mulher do século XV”, explica D. José Alves.
Em entrevista ao Programa ECCLESIA desta segunda-feira, o arcebispo eborense apresenta a religiosa portuguesa como alguém que “bebeu dos seus familiares uma grande devoção à Imaculada Conceição”.
Nascida em Campo maior, em 1437, no seio de uma família cristã profundamente influenciada pelo espírito franciscano, Beatriz da Silva tinha 10 anos quando foi colocada como dama de honor da infanta D. Isabel de Portugal, na corte de Castela.
Foi nesse contexto que, ao tomar contacto com experiências de subjugação e violência sobre as mulheres no matrimónio, decidiu enveredar pela vida consagrada, entrando no Mosteiro de São João das Monjas Dominicanas, em Toledo, onde permaneceu cerca de 30 anos.
Em 1484 fundou um instituto que tomou o título da Imaculada Conceição de Nossa Senhora (Concepcionistas), e alcançou uma primeira aprovação em 1489, através do Papa Inocêncio VIII.
A aprovação da Regra da Ordem, que consagrou definitivamente o perfil religioso da única grande congregação contemplativa portuguesa, aconteceu em 1511, pela mão do Papa Júlio II.
Recorrendo a uma abordagem científica, com o apoio de diversas universidades e especialistas em história religiosa, o congresso intitulado “Santa Beatriz da Silva, estrela para novos rumos” permitirá avaliar a influência da espiritualidade mariana na Ordem da Imaculada Conceição, a partir da sua fundadora.
Outro dos objetivos será avaliar o papel e influência da Ordem, em articulação com outras congregações religiosas, na História de Portugal e da Europa.
D. José Alves sublinha que, “ao contrário do que alguns possam imaginar”, o dinamismo e vitalidade que sempre caracterizou a ação das irmãs concepcionistas não se perdeu nos dias de hoje.
“Tem 155 mosteiros ativos, na Europa, na América e na Ásia, cerca de 3 mil religiosas espalhadas pelo mundo e muitas vocações. Aqui o mosteiro de Campo maior tem três jovens da nossa diocese, uma de Beja e outra do Patriarcado de Lisboa”, realça.
Para além das instalações situadas na diocese de Évora, as irmãs concepcionistas têm ainda outro mosteiro em território português, na Quinta do Viso, diocese de Viseu.
PTE/JCP
cf. 11 out 2011 (Ecclesia)


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

D. José Francisco Sanches Alves
entrevistado no Programa «Ecclesia» de hoje
O Arcebispo de Évora será o entrevistado no Programa «Ecclesia» de hoje, emitido pela RTP2 e que vai para o ar às 18h00.
Na entrevista, D. José Alves apresenta os projectos da Arquidiocese e o Congresso Internacional sobre Santa Beatriz da Silva que decorrerá em Fátima, de 14 a 16 de Outubro.
cf. Departamento de Comunicação Social da Arquidiocese de Évora

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Congresso Internacional sobre Santa Beatriz da Silva
em destaque no Ser Igreja de hoje

O magazine radiofónico Ser Igreja deste dia 7 de Outubro dará destaque ao Congresso Internacional que decorrerá em Fátima, de 14 a 16 de Outubro, sobre os 500 anos da aprovação da Regra da Ordem da Imaculada Conceição, fundada por Santa Beatriz da Silva.
A este propósito, o cónego Senra Coelho estará à conversa com D. José Alves, arcebispo de Évora, que é também o presidente da comissão organizadora do Congresso.
Não perca esta interessante conversa que será emitida a partir das 23h em todas as rádios de Inspiração Cristã da Arquidiocese de Évora, nomeadamente: Rádio Sim – Évora – 927 AM; Rádio Sim – Elvas – 99.8 FM; Rádio Sim Alentejo – 97.5 FM; Rádio Despertar – Voz de Estremoz – 94.5 FM; Rádio Campanário – Voz de Vila Viçosa – 90.6 FM.
Contudo, esta emissão pode também ser ouvida on-line. Para tal basta entrar no site da Arquidiocese (www.diocese-evora.pt) e seleccionar, no menu a opção “Arquidiocese na rádio”. Assim, se não ouviu o programa na Rádio, pode fazê-lo onde e quando quiser na Internet.
(Fonte: página Web da Arquidiocese de Évora)

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Beatriz da Silva, fundadora pioneira e paladina de um cristianismo também de rosto feminino
Fundou-se há 500 anos a única ordem contemplativa portuguesa - Ordem da Imaculada Conceição - 500 anos

As ordens religiosas foram muitas vezes, contrariamente à opinião comum, espaços de iniciativa, de empreendedorismo e de liberdade para o universo feminino em contextos e tempos marcados por uma mentalidade social dominada pelos valores e pela liderança do universo masculino.
No desaguar da Idade Média e com o dealbar da Época Moderna acentuou-se uma tendência cultural e civilizacional tardo-medievial no Ocidente cristão que desconfiava do género feminino, que o desconsiderava em relação a uma visão que estabelecia a preponderância do homem e do seu valor considerado superior. Uma teologia do pecado original, conforme narra a história-metáfora do Génesis, que fazia recair na alegada fraqueza e fragilidade feminina, a responsabilidade toda pela queda que levaria à expulsão do primeiro casal humano do paraíso, tendeu a estabelecer um imaginário negativo, atingindo até foros de mitificação em torno da Mulher. Como bem demonstrou Régine Pernoud na sua obra sobre o Mito da Idade Média, a mulher medieval detinha mais espaço de protagonismo, de liderança para afirmar dignidade própria, prerrogativas que veio progressivamente a perder à medida que se caminhou em direção à emergência de um novo horizonte de compreensão do mundo e da sociedade na Modernidade.
Desde o século XV até sensivelmente ao Século das Luzes afirma-se na Europa uma cultura cada vez mais masculinizante que arreda a mulher da esfera pública, como se de uma espécie demoníaca perigosa se tratasse. As mulheres passam cada vez mais a ser confinadas na esfera privada, no lar e noutros espaços reservados, como nós procurámos demonstrar na obra escrita com Isabel Morán Cabanas sobre O Padre António Vieira e as Mulheres: O mito barroco do Universo Feminino.
Foi neste contexto marcado por uma moral social em que à mulher era retirado qualquer espaço de decisão, nem sequer na escolha de quem deveriam amar para constituir família cristã (direito de preferência reservado aos pais e em que os maridos detinham todo o poder sobre as suas esposas), que ocorre a chamada “Querela das Mulheres” na Modernidade. Embora tenha sido uma revolta de algum modo silenciosa, a Querela das Mulheres assumiu formas de reação da parte de mulheres da elite nobiliárquica com instrução e cultura capaz de oferecer olhar crítico sobre a realidade e sobre maneiras de pensar o seu próprio destino para além do statu quo que lhe era imposto. A vida monástica tornou-se, com efeito, um desses espaços possíveis de afirmação do desejo de liberdade e de inconformismo de muitas mulheres que não aceitavam o jugo imposto e não escolhido livremente, do elemento masculino.
Neste interessante contexto de transição moderna, se pode relevar a importância e o significado extraordinário de uma mulher forte de origem portuguesa que quis afrontar os cânones sociais e mentais ibéricos do tempo e encontrar um espaço de protagonismo e de liberdade interior.
Trata-se de D. Beatriz da Silva, nascida por volta do 1437 em Campo Maior, filha do nobre Rui Gomes da Silva que era Alcaide-Mor daquela vila portuguesa e conselheiro do Rei D. Duarte, tendo como mãe, D. Isabel de Menezes, filha natural de D. Pedro de Menezes, 1º Conde de Vila Real. A sua formação será muito influenciada pelos franciscanos com quem a família tinha relações privilegiadas, em particular com Frei Amador da Silva que veio a fundar o novo convento franciscano de Santo António de Campo Maior.
A celebração do casamento entre a portuguesa D. Isabel, filha de D. Isabel e do infante D. João e prima de D. Afonso V, com o Rei D. João II de Castela e Leão, conduz D. Beatriz à corte espanhola, fazendo parte do séquito real como dama de companhia da novel rainha, que passa a acompanhar nos trânsitos da corte castelhana. D. Beatriz ganha grande destaque na corte pela sua formosura, carácter forte e pela sua extraordinária cultura, sendo intensamente disputada por vários pretendentes, cujos pedidos de casamento recusa sempre. Ao tornar-se o centro das atenções, ganha o ciúme e a inveja da rainha que teria chegado a tal ponto de a encerrar num cofre durante alguns dias.
É neste ambiente de disputa e intriga cortesã e num contexto micro-social em que D. Beatriz toma contato com experiências de subjugação e violência sobre mulheres em situação matrimonial, que decide fazer voto de virgindade e seguir vida consagrada e de reclusão monástica no Mosteiro de São Domingos de Monjas Dominicanas em Toledo. Com catorze anos de Idade passa a viver nesta comunidade monástica em regime de semi-reclusão, dedicando-se à oração, à solidariedade e também exercendo ações de mecenato. Rapidamente ganha fama de santidade e modelo de vida espiritual, atraindo a atenção quer da rainha Isabel, a Católica, filha do falecido rei D. João II e da sua mulher portuguesa do mesmo nome, que a visita e apoia no seu ideário.
Várias donzelas são atraídas pelo seu modelo de vida e formam pouco a pouco comunidade em torno de Beatriz, vindo a fundar uma nova experiência de vida espiritual e de caridade chamada à época de Beatério numa dependência dos Palácios de Galina concedida para o efeito pela Rainha de Castela.
É a partir deste primeiro núcleo - em que D. Beatriz, já com fama de santa, e as suas doze discípulas ganham ali o seu espaço de liberdade espiritual e prestígio social - que surge o empenho de formar um novo mosteiro feminino com regra própria. É esta a pré-história da Ordem da Imaculada Conceição.
A partir do 1489, sucedem-se vários pedidos apresentados junto da Santa Sé, com o patrocínio empenhado da poderosa Rainha D. Isabel, para que esta experiência de vida religiosa seja reconhecida e canonicamente institucionalizada.
D. Beatriz idealiza uma nova comunidade monástica, tendo por modelo a Virgem Maria, que teria concebido o Filho de Deus de maneira imaculada e livre das culpas originais do paraíso perdido que recaíam sobre ela enquanto mulher. Do ponto de vista litúrgico, espiritual, organizacional e jurídico planeia a constituição de um mosteiro que fará nascer uma ordem feminina com autonomia, com prerrogativas próprias e liberdade de escolhas, afrontando uma tendência de fazer depender as fundações monásticas femininas das regras e ordens masculinas.
Não deixa de ser significativo que Beatriz da Silva queira erguer como modelo espiritual a mulher perfeita, a mãe de Deus, para alicerce da sua espiritualidade e vida comunitária. A sua ordem constitui-se num tempo marcado dentro da Igreja pelo debate em torno da afirmação da verdade teológica da Imaculada Conceição - muito defendido pelos teólogos franciscanos contra uma resistência argumentativa liderada pelos intelectuais dominicanos - que dava a Maria, mãe de Cristo, um estatuto de superação plena da culpa feminina pela oferta do Redentor à humanidade decaída.
Beatriz alcança, em 1489, uma primeira aprovação papal para a sua comunidade monástica através da bula Inter Universa do papa Inocêncio VIII, com prerrogativas de autonomia em relação às Ordens Medicante quer a Dominicana quer a Franciscana, preferindo antes ficar inicialmente na alçada da regra de Cister que lhe dava mais liberdade de ação autónoma.
Não foi pacífica o perfil idealizado, por parte de Beatriz da Silva, de uma comunidade monástica de liderança feminina, cuja abadessa tivesse competências que lembram prerrogativas exercidas por outras grandes monjas medievais como Santa Hildegarda de Bingen. A fundadora portuguesa pretendia alicerçar em Toledo uma nova Ordem contemplativa que dependesse não de um Superior de uma Ordem Masculina, mas do Ordinário diocesano, o Bispo de Toledo e depois do Papa, em paridade com o que acontecia com outros superiores maiores masculinos. Queria ter liberdade de escolha dos conselheiros espirituais e confessores, ter toda a autoridade e decisão no espaço do seu mosteiro: controlo de entradas e saídas, definição de regimentos internos, poder oficiar uma liturgia própria inspirada na espiritualidade imaculista e concepcionista mariana em dias festivos e solenes próprios. O modelo de vida deveria ser a figura sagrada feminino da Imaculada Conceição e o espaço reservado e controlado sumamente pelas mulheres que ali consagravam a sua liberdade, corpo e alma, a Deus através de Sua mãe, Nossa Senhora, caminho modelar e inspirador da possibilidade de afirmação e perfeição cristã no feminino.
A negociação e definição do perfil da nova ordem sonhada por Beatriz foi morosa. Só anos depois da sua morte, ocorrida em 1492, a Ordem da Imaculada Conceição obteve a tão aguardada bula fundacional Ad Statum Prosperum no ano de 1511 com a assinatura do papa Júlio II, marcada pelo timbre imaculista da espiritualidade franciscana ligada à exaltação da conceição virginal de Nossa Senhora. A Ordem, cuja fundação sempre foi atribuída a Santa Beatriz da Silva, conheceu o grande período de expansão nos séculos XVI e XVII, em que multiplica cerca de uma centena de mosteiros pela Europa católica e América espanhola, onde é pioneira na fundação de mosteiros femininos.
Depois das vicissitudes que sofreram as ordens monásticas a partir do Iluminismo e com os processos persecutórios de carácter político e ideológico sofridos durante o século XIX e primeiras décadas do século XX marcado pela emergência do laicismo e do liberalismo, tem-se assistido nas últimas décadas a um novo florescimentos dos mosteiros da Ordem da Imaculada Conceição tanto na Europa como fora do velho continente cristão, nomeadamente na América Latina. Só no Brasil existem 18 mosteiros desta ordem. Em Portugal, existem duas comunidades refundadas no século XX. Uma em Campo Maior e outra perto de Viseu na Quinta do Viso.
O século XXI, que alguns teólogos anunciaram como o século do ressurgimento do misticismo e da vida espiritual, está a ser o da afirmação plena do lugar e do papel da mulher na sociedade como uma realidade cada vez mais visível, ultrapassando séculos de invisibilidade na esfera pública. Hoje, pois, o projeto que estrutura o ideário fundacional de Santa Beatriz que cria a única grande ordem contemplativa portuguesa e inspirará, mais tarde, outras fundações como a Congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, não pode deixar de ser relevado do ponto de vista cultural, social e espiritual no plano largo da ação dos grandes protagonistas da História Portuguesa na sua articulação com a história ibérica e internacional.
Uma mulher quis ser livre e realizou-se através da procura de uma liberdade maior que não prende o corpo, nem subjuga a vontade, mas liberta o espírito num plano superior à deriva rasteira dos dias e das sua múltiplas preocupações.
Tendo ganhado fama de mulher forte e santa ainda durante a sua vida, a Igreja viria a oficializar o reconhecimento público da sua santidade, depois de um longo processo canónico que já vinha do século XVII. O papa Paulo VI acabaria por elevá-la ao grau máximo de santidade, canonizando-a a 3 de Outubro de 1976 e apresentando-a à Igreja como modelo de vida cristã a seguir.
A Santa Sé não poderia, de facto, ficar indiferente a uma fundadora extraordinária que afrontou a mentalidade misógina do seu tempo e que iniciou uma ordem feminina peculiar e valorizadora da vida cristã no feminino pelos começos da Idade Moderna, continuando a dar frutos de pujança espiritual nos dias de hoje.
É, pois, de toda a pertinência e importância a realização de um grande congresso internacional em Fátima nos dias 14, 15 e 16 de Outubro próximo dedicado aos 500 anos da Ordem da Imaculada Conceição e à sua fundadora na relação com a espiritualidade marina e com o papel e influência da ordem em articulação com outras ordens religiosas na história de Portugal e da Europa.
José Eduardo Franco
Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias
da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

terça-feira, 4 de outubro de 2011

A bondade sem amabilidade
é um diamante em bruto
que não pode servir de ornamento.

Diz São Francisco de Assis, que
a graciosa serva da bondade é a caridade.
Serva de Deus
madre Maria Isabel da Santíssima Trindade
fundadora das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres
"«Lembrai-Vos sempre» escritos - carisma - espiritualidade",
Editorial Franciscana, Braga, 1995, pg 72.