"...brilhe a vossa luz diante dos homens,
de modo que, vendo as vossas boas obras,
glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu."
(Mt 5, 16)

São vários os cristão alentejanos,
ou com profunda relação ao Alentejo,

que se deixaram transformar pela Boa Nova de Jesus Cristo
e com as suas vidas iluminaram a vida da Igreja.
Deles queremos fazer memória.
Alguns a Igreja já reconheceu como Santos,
outros estão os processos em curso,

outros ainda não foram iniciados os processos e talvez nunca venham a ser…
Não querendo antecipar-nos nem sobrepor-nos ao juízo da Santa Mãe Igreja,
queremos fazer memória destas vidas luminosas.

terça-feira, 20 de março de 2012

20 de Março de 2012
100 anos do casamento de
Madre Maria Isabel da Santíssima Trindade
com o seu primo João Pires Carneiro
na Igreja de Santa Eulália
Um lar cristão que se forma é um ponto luminoso sobre a terra,
há-de proclamar a Cristo.
Serva de Deus
Madre Maria Isabel da Santissima Trindade
"Foi com intensa satisfação que aquela família acolheu esse noivado auspicioso, acontecido nos acordes da «Valsa da Meia-Noite» no clube de Elvas. Ele chamava-se João Pires Carneiro, primo ainda que afastado dos Picão-Caldeira, herdeiro do Monte São Domingos que ficava a 8 km do Monte de Pena Clara. Era um homem de 26 anos, delicado e belo, esmeradamente educado.
Se fosse um conto de fadas, o enlace seria inevitável e eternamente feliz. Foi quase assim.
A linda e bondosa Menina encontrou a sua alma gémea, o príncipe encantado dos seus sonhos, o rapaz de olhos claros e maneiras agradáveis.
Os nupciais foram anunciados, e após um breve noivado, eles casaram na Igreja Paroquial de Santa Eulália, em 20 de Março de 1912.
As bodas foram celebradas sob ramadas brancas de amendoeiras recém floridas. As carruagens belamente aparelhadas, seguiram por entre giestas em flor, no ar que cheirava a mel, bordejando os verdes trigais.
A festa durou três dias e três noites, como era costume na região. As amplas cozinhas não paravam e enormes vitualhas de carne eram assadas em espetos, por sobre lumes altos.
Ao entardecer do terceiro dia, os noivos dirigiram-se para o novo lar, no Monte de São Domingos, recentemente pintado de branco, com rodapé e ombreiras em azul-anilado, um casarão que a lenda dizia ter pertencido aos Templários, talvez."
FRANCISCA FERNANDES, "Uma nascente na planura", Edição das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, Elvas, 1988, pgs 33-34.

quinta-feira, 15 de março de 2012

"A Eucaristia, Sacramento Augusto,
em que o Deus vivo se encontra no meio de nós,
é chamada por excelência, o mistério da fé,
e é também a expressão suprema da caridade
de um Deus, que se imola por nós
e neste Sacramento nos irmana
pela participação da sua mesma vida"
Servo de Deus
D. Manuel Mendes da Conceição Santos
"Antologia de Pensamentos", pg. 71.

quinta-feira, 8 de março de 2012

3.ª CARTA de São João de Deus
À DUQUESA DE SESA
Endereço
98. Esta carta seja entregue à humilde e generosa senhora dona Maria de los Cobos y Mendoza, mulher do nobre e virtuoso senhor dom Gonçalo Fernández de Córdoba, Duque de Sesa, meus irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo.
99. Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e de Nossa Senhora, a Virgem Maria sempre intacta. Deus antes e acima de todas as coisas do mundo. Amém Jesus.
Deus vos salve, minha irmã em Jesus Cristo, boa Duquesa de Sesa, a vós, a toda a vossa companhia e a quantos Deus quiser e for servido. Amém Jesus.
100. A grande estima em que sempre vos tenho tido, a vós e ao vosso humilde marido, o bom Duque, faz com que vos não possa esquecer, pelo muito que vos devo e vos sou obrigado, por sempre me terdes ajudado e socorrido nos meus trabalhos e necessidade com a vossa bendita esmola e caridade, para sustentar e vestir os pobres desta casa de Deus e muitos de fora. Muito bem o tendes feito sempre, como bons defensores e cavaleiros de Jesus Cristo. É essa a razão que me leva a escrever-vos esta carta, boa Duquesa, pois não sei se vos tomarei mais a ver ou a falar. Jesus Cristo vos veja e fale convosco.
101. É tão grande a dor que me causa este meu mal, que não posso fazer sair as palavras nem sei se poderei acabar de vos escrever esta carta.
Muito gostaria de vos ver; por isso, rogai a Jesus Cristo para que, se Ele for servido, me dê a saúde que sabe ser-me necessária para me salvar e para fazer penitência dos meus pecados (Ap. 2, 21).
Se Ele for servido dar-me saúde, logo que esteja bom quero ir ter convosco e levar-vos as meninas que me mandastes pedir.
Minha irmã em Jesus Cristo, pensei ir a vossa casa pelo Natal, mas Jesus Cristo dispôs muito melhor do que eu merecia.
102. Oh, boa Duquesa! Jesus Cristo vos pague no Céu a esmola e santa caridade que sempre me tendes feito e vos traga com saúde o bom Duque, vosso muito generoso e humilde marido, e vos dê filhos de bênção; espero em Jesus Cristo que sim, que vo-los dará. Recordai-vos bem do que um dia vos disse em Cabra: tende esperança só em Jesus Cristo (Flp 3, 3; Imit L3 59, 1-3), que por Ele sereis consolada, mesmo que agora passeis trabalhos; porque, no fim, hão-de contribuir para maior consolação e glória vossa, se os sofrerdes por Jesus Cristo (Sab 3, 4-9; Tgo 1, 12).
103. Oh, bom Duque! Oh, boa Duquesa! Abençoados sejais por Deus, vós e toda a vossa geração. Já que vos não posso ver, daqui vos deito a minha bênção, ainda que indigno pecador.
Deus, que vos fez e vos criou, vos conceda a graça de vos salvardes Amém Jesus.
A bênção de Deus Pai, o amor do Filho e a graça do Espírito Santo estejam sempre convosco (2 Cor 13, 13), com todos e comigo. Amem Jesus.
Por Jesus Cristo sereis consolados e socorridos, pois por Jesus Cristo me ajudastes e socorrestes, minha irmã em Jesus Cristo, boa e humilde Duquesa.
104. Se Jesus Cristo for servido levar-me desta vida presente, deixo aqui disposto que, quando chegar o meu companheiro Angulo, que foi à Corte - o qual vos recomendo, pois fica muito pobre, ele e sua mulher -, vos leve as minhas armas, que são três letras de fio de ouro sobre cetim vermelho. Tenho-as guardadas desde que entrei em guerra com o mundo. Guardai-as muito bem com esta cruz, para as dardes ao bom Duque, quando Deus o trouxer com saúde.
105. As letras estão em cetim vermelho, para que sempre tenhais em vossa memória o precioso sangue que Nosso Senhor Jesus Cristo derramou por todo o género humano e a sua sacratíssima Paixão, pois não há mais alta contemplação do que a da Paixão de Jesus Cristo. Quem quer que dela for devoto não se perderá, com a ajuda de Jesus Cristo.
106. São três as letras, porque três são as virtudes que nos encaminham para o Céu: a primeira é a Fé, (pela qual) acreditamos em tudo o que crê e ensina a Santa Madre Igreja, guardamos os seus mandamentos e os pomos por obra; a segunda é a Caridade, (pela qual procuramos) ter caridade, primeiro com as nossas almas, purificando-as com a confissão e a penitência, depois com os nossos próximos e irmãos, querendo para eles o que queremos para nós (Mt 19, 19; Mc 12, 31); a terceira é a Esperança, só em Jesus Cristo, o qual, em troca dos trabalhos e sofrimentos que por seu amor passarmos nesta vida miserável, nos dará a glória eterna, pelos méritos da sua sagrada Paixão e por sua misericórdia.
107. As letras são de ouro porque, assim como o ouro é um metal muito precioso e, para brilhar e ter a cor que o torna apreciado, é separado da terra e das escórias em que é encontrado, e depois purificado pelo fogo para ficar limpo e puro, assim convém que a alma, que é uma jóia muito preciosa: seja separada dos prazeres e devassidões da terra, fique só com Jesus Cristo e depois seja purificada no fogo da caridade, com trabalhos, jejuns, disciplinas e áspera penitência, para ser apreciada por Jesus Cristo e resplandecer na adorável presença Divina.
108. Tem este pano quatro ângulos, que são as quatro virtudes que acompanham as três de que falámos antes e são estas: a Prudência, a Justiça, a Temperança e a Fortaleza.
A Prudência mostra-nos quão discreta e sabiamente devemos proceder em todas as coisas que tivermos de fazer e pensar, tomando conselho com os mais velhos e que mais sabem (Ecli 2, 1-5; Sab 3, 5-6).
A Justiça quer dizer ser recto e dar a cada um o que é seu: dar a Deus o que é de Deus e ao mundo o que é do mundo (Mt 22, 21; Mc 12, 17; Lc 20, 25).
A Temperança ensina-nos a tomar com moderação e sobriedade o comer, o beber, o vestir e todas as demais coisas que são necessárias para os cuidados do corpo humano.
A Fortaleza manda-nos que sejamos fortes e constantes no serviço de Deus (1 Cor 16, 13), mostrando cara alegre tanto nos trabalhos, fadigas e enfermidades, como na prosperidade e bem-estar, e por uns e por outros dar graças a Jesus Cristo (1 Tes 5, 16-18).
109. Na outra face deste pano há uma cruz em forma de X, que deve levar todo aquele que deseja salvar-se (Mt 16, 24; Lc 9, 23), cada um como Deus for servido e lhe der graça.
Embora todos apontem ao mesmo alvo (1 Cor 9, 24-27), deve cada um seguir o seu rumo, conforme Deus o encaminhar: uns serão frades, outros clérigos, outros ermitães e outros casados, pois em qualquer estado pode cada um salvar-se, se quiser (Ecli 33, 11-14; Is 48, 17; Jer 7, 23).
Tudo isto, boa Duquesa, o sabeis vós muito melhor do que eu, e é por isso que gosto de falar com quem me entende.
110. Três coisas devemos a Deus: amor, serviço e reverência. Amor, para que, como a Pai celeste, O amemos sobre todas as coisas do mundo (Deut 6, 4-5; Mt 22, 37; Lc 10, 27). Serviço, para que O sirvamos como Senhor (Deut 6, 13), não pelo interesse da glória que Ele há-de dar aos que O servirem, mas unicamente pela sua bondade. Reverência, como Criador, não trazendo o seu santo nome na boca senão para Lhe dar graças e bendizer o seu santo nome (Deut 5, 11).
111. Em três coisas, boa Duquesa, haveis de empregar o tempo de cada dia: na oração, no trabalho e no sustento do corpo.
Na oração, dando graças a Jesus Cristo, logo que vos levanteis de manhã, pelos benefícios e mercês que sempre vos faz, por vos ter criado à sua imagem e semelhança e nos ter concedido a graça de sermos cristãos; pedindo misericórdia a Jesus Cristo paraque nos perdoe, e rogando a Deus por todos (1 Tim 2, 1-5; Tgo 5, 16)
.
No trabalho, exercendo uma actividade física, ocupando-nos em algum serviço honesto, para merecermos o que comemos, a exemplo de Jesus Cristo que trabalhou até à morte, pois não há nada que engendre mais pecados do que a ociosidade (Ecli 33, 28-30; Ez 16, 49; 2 Tes 3, 11-13).
No sustento do corpo, pois, assim como um almocreve trata e mantém um animal para se servir dele, assim convém que demos ao nosso corpo o que lhe é necessário, para que, por meio dele, tenhamos forças para servir a Jesus Cristo (Mt 10, 10; 1 Cor 10, 31).
112. Minha irmã muito amada e muito querida, por amor de Jesus Cristo vos rogo que tenhais na memória três coisas, que são estas: a hora da morte, à qual ninguém pode escapar, as penas do Inferno e a glória da bemaventurança do Paraíso.
Sobre a primeira, pensar como a morte destrói e acaba com tudo o que este miserável mundo nos dá, não nos deixando levar connosco senão um pedaço de pano roto e mal cosido (Tim 6, 7).
Sobre a segunda, pensar como, por tão breves prazeres e divertimentos, que rapidamente passam, temos de os ir pagar, se morrermos em pecado mortal, ao fogo do Inferno que nunca mais tem fim.
Sobre a terceira, considerar a glória e bem-aventurança que Jesus Cristo tem reservada para aqueles que O servem, as quais nunca olhos viram nem ouvidos ouviram nem o coração pôde imaginar (1 Cor 2, 9; 2 Tim 4, 7-8).
113. Por isso, minha irmã em Jesus Cristo, esforcemo-nos todos desde já por amor de Jesus Cristo e não nos deixemos vencer pelos nossos inimigos (1 Jo 2, 15), mundo, demónio e carne. Sobretudo, minha irmã, tende sempre caridade, pois ela é a mãe de todas as virtudes (1 Cor 16, 14; Col 3, 14; 1 Pd 4, 8).
114. Minha irmã em Jesus Cristo, muito me aflige esta dor e não me deixa escrever; quero descansar um pouco, porque desejo escrever-vos longamente, pois não sei se nos tomaremos a ver.
Jesus Cristo esteja convosco e com toda a vossa companhia, etc. (Esta frase ficou incompleta. Parece que faltaram de todo as forças ao Santo para continuar.
Tudo indica terem sido as últimas palavras que ele escreveu (ditou?)
)

Nota - Não existe o original desta carta, mas a cópia que dela se fez para o exame dos escritos de São João de Deus, em ordem ao processo de beatificação, está no Arquivo da Ordem, na Cúria Geral, Ilha Tiberina - Roma.
(Fonte: Página Web dos Irmãos de São João de Deus em Portugal)