Estarão restos dos Mártires de Tazacorte (=do Brasil) na “Gruta dos Frades?”
O
investigador e etnógrafo Juan José Santos refere que a tradição oral do
município (de Fuencaliente) recorda que, nesta zona do litoral de
Fuencaliente, onde aportava tudo o que se lançava ao mar do sul, se
encontram submergidos pelas ondas de lava do vulcão de Teneguía, de
1971, alguns cadáveres dos religiosos jesuítas, assassinados pelos
corsários calvinistas, em 1570.
Esther R. Medina - Fuencaliente
Juan José Santos (à direita) dialoga com o Padre João Caniço, a 10 de Outubro (2014), em Fuencaliente. Foto: MARÍA VICTORIA HERNÁNDEZ.
Os
restos dos jesuítas Inácio de Azevedo e seus 39 companheiros [Mártires
do Brasil], conhecidos, nas Ilhas Canárias, como ‘Mártires de
Tazacorte’, que, em 1570, foram assassinados junto à Ponta de
Fuencaliente, por corsários calvinistas, comandados pelo pirata Jacques
de Sória, quando se dirigiam para o Brasil, a realizar obras de
evangelização, foram ali tragados pelo mar. Mas a tradição popular -
conta na sua página de Facebook, a “Conselheira” da Cultura e do
Património do “Cabildo de La Palma”, Maria Victória Hernández –
reconhece que, “próximo do Farol de Fuencaliente se localiza a chamada
‘Gruta dos Frades’, submergida pelo vulcão Teneguía em 1971, e, segundo
alguns informadores, entre os quais se encontram Juan José Santos e Juan
Luis Curbelo, sendo ainda muito jovens, os seus professores da escola
primária e outras pessoas relatavam que, nessa gruta, tinham sido
enterrados os jesuítas que o mar tinha feito chegar à costa”.
O
sacerdote jesuíta português, vice-postulador da Causa de Canonização
dos Beatos Mártires de Tazacorte, João Caniço, que se deslocou de
Portugal à Ilha de La Palma, para assistir à homenagem que o Cabildo
prestou aos religiosos, erigindo uma cruz de pedra, junto ao Farol de
Fuencaliente, teve a oportunidade de dialogar com Juan José Santos e
ouvir os testemunhos orais que têm sido transmitidos de geração em
geração sobre este trágico episódio da história insular. Santos revelou
ao jornal “La Palma Ahora” que, “em finais dos anos cinquenta do século
passado, os alunos do “Colégio de Los Canarios” fizemos uma excursão com
um missionário jesuíta para colocar uma cruz na ‘Gruta dos Frades’,
porque se dizia que ali tinham aparecido alguns cadáveres dos
missionários, já que a esta gruta vinha dar tudo o que era lançado ao
mar”. Santos, prestigioso folclorista e investigador etnográfico,
reconhece que “não há documentos históricos” que certifiquem que nesta
gruta se encontram restos dos jesuítas, ainda que “todas as pessoas mais
velhas do município contavam que nesta gruta, utilizada pelos
habitantes locais, se tinham encontrado restos dos religiosos”.
O
Padre Joao Caniço mostrou-se muito interessado por este relato, na
medida em que o seu trabalho se centra em recolher informação sobre a
vida e a obra dos ‘Mártires de Tazacorte’ [ou Mártires do Brasil] e
promover a sua canonização, declaração que espera se venha a produzir
durante el governo do Papa Francisco, que manifestou especial interesse
por esta causa.
María
Victoria Hernández qualificou o martírio dos jesuítas, que procediam de
Lisboa e se dirigiam ao Brasil, como “o facto histórico mais destacado
que algum dia aconteceu em La Palma, pela sua transcendência
internacional, vendo-se directamente relacionados Espanha, Portugal,
França, Vaticano e a Companhia de Jesus”. A mesma “Conselheira da
Cultura e do Património” pretende, além de prestar uma homenagem a estes
missionários, tornar mais conhecido o seu martírio entre todos os
habitantes da Ilha de La Palma.
Segundo
se conta, Inácio de Azevedo, na última missa que celebraram na Igreja
de Nossa Senhora das Angústias, antes de prosseguir a viagem para o
Brasil, depois de uma escala no Porto de Tazacorte, teve um pre-aviso,
uma revelação divina, do que lhes iria acontecer. E foi tal a sua
impressão, que mordeu a borda do cálice, deixando nele as marcas dos
dentes. Quando o navio, em que viajava a expedição, foi atacado por
Jacques de Sória, Inácio de Azevedo, com um quadro de Nossa Senhora nas
mãos, “animou os missionários a oferecerem as suas vidas por Cristo”. Os
40 jesuítas foram apunhalados e lançados vivos ao mar, no dia 15 de
Julho de 1570.
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